Em 11/12/1983 o árbitro Michael Vautrot apita o final do jogo entre Grêmio X Hamburgo: 2 X 1. O Grêmio se sagrava Campeão Mundial de Futebol, com Renato marcando 2 gols e sendo escolhido o melhor jogador em campo. Essa história, que está em nossos corações, todo mundo conhece.
14/12/2010: nosso rival, entra para disputar a semifinal contra o Mazembe, do Congo, e se torna o primeiro clube sulamericano ou europeu a ficar de fora de uma final do Mundial de Clubes. Aí lançaram um argumento: o de que os mundiais antes de 2005 não valeriam por não terem participantes dos outros continentes.
Quais seriam esses continentes? América do Norte e Central, África, Ásia e Oceania. Hoje sabemos que o nível do futebol desses continentes ainda está abaixo do nosso (sulamericano) e do europeu. A vitória do Mazembe e sua consequente classificação para a final, deveu-se mais a erros de planejamento do nosso rival do que propriamente por méritos exclusivos dos africanos, cuja equipe, apesar de ter raça, é de qualidade técnica inferior. E se hoje há a possibilidade de uma vitória de clubes de outros continentes, como era em 1983?
Naquela época era assim: na Ásia houve um torneio de cunho praticamente amador, disputado de 1967 a 1972. Como em 1972 somente dois clubes se interessaram, o torneio foi cancelado, vindo a ser disputado em 1985, ou seja, dois anos depois do título do Grêmio.
Na Oceania, o primeiro título, quase em caráter experimental, foi realizado em 1987. Naquele ano, participaram as seleções de Palau e Vanuatu, além de clubes campeões de países da Oceania. Os clubes da Austrália esperaram o vencedor das outras equipes do continente.
O campeão de 1983 da CONCACAF (Américas do Norte e Central) só foi conhecido em 1/02/1984, mais de um mês e meio depois do título do Grêmio. Foi o Atlante F.C., do México. O detentor do título de campeão da CONCACAF era, então, o campeão de 1982. Era o Pumas, do México, que venceu a final contra o SV Robinhood (é esse mesmo o nome), do Suriname, dia 17/11/1982. Se o Pumas tivesse que disputar um mundial, seria o de 1982, que foi disputado dia 12/12/1982. Ele não poderia disputar dois mundiais na condição de representante da CONCACAF, ostentando o mesmo título. Mas supondo que pudesse, vamos entender como foi o título de 1982. A competição dividiu os clubes da CONCACAF em duas zonas (Américas do Norte e Central e zona do Caribe). Na primeira fase, o New York Pancyprian-Freedoms deu W.O. e o Pumas passou direto. Depois enfrentou o C.D. Vida, de Honduras, empatando em 2 X 2 e ganhando por 5 X 0. Na final da zona América do Norte / América Central, enfrentou o CSD Comunicaciones, da Guatemala, empatando em 2 X 2 e vencendo por 3 X 0. Na final, disputada em dois jogos, sendo AMBOS no México, o Pumas venceu o SV Robinhood por 3 X 2, após um empate de 0 X 0 no jogo de ida.
Resta o continente africano. O campeão africano de 1983 é um clube chamado Asante Kotoko, de Gana. Ele derrotou o Al-Ahly, do Egito, em uma final de dois jogos. 0 X 0 no de ida e 1 X 0 no jogo de volta. O problema é que o jogo de volta foi disputado dia 11/12/1983, data que todos nós, gremistas, conhecemos. Para que o Asante Kotoko disputasse o mundial, teria que ser depois dessa data. Como dia 25 seria o Natal, o mundial de 1983, se fosse disputado com todos os 4 campeões continentais da época, teria que ser decidido dia 18/12. Hoje, isso já seria inviável. Em 1983, como havia mais problemas de deslocamento em grandes viagens, seria impossível. Talvez, o representante pudesse ser o Al-Ahly, que derrotou o mesmo Asante Kotoko na final de 1982.
A verdade é que para estes continentes não havia nem pedidos formais, que se tem notícia, de disputarem um mundial de clubes. Inclusive havia uma certa Copa Interamericana, disputada entre o campeão da Libertadores e o campeão da CONCACAF. Esta competição, porém, não era regular, chegando a ficar 4 anos seguidos sem acontecer. O último campeão foi o DC United, dos Estados Unidos, que venceu o Vasco da Gama por 2 X 0 no jogo de volta, após o Vasco ter vencido o de ida por 1 X 0. Ambos os jogos foram nos Estados Unidos.
Em 1983, quando terminou a prorrogação da final do Mundial, o Grêmio se sagrava Campeão do Mundo. Este era o sentimento do clube, da torcida gremista e da imprensa, que destacou o título com edição extra do jornal Zero Hora.
Mas duas perguntas precisam ser respondidas. A primeira: o título era oficial? A segunda: o título teve caráter mundial? Bom, para nós gremistas essas perguntas nem precisariam ser feitas, mas vamos analisar bem. Nas placas de publicidade oficiais do torneio aparecia a inscrição “hosted by FIFA –UEFA – CONMEBOL”, como na foto abaixo.
Bom, isso já é um indicativo de ser uma competição não só reconhecida, mas ORGANIZADA pela FIFA. Para os mais chatos, faltaria a confirmação no site da FIFA. Pois bem, no site http://ar.fifa.com/mm/document/fifafacts/mencompcwc/01/15/71/66/statskitcwc2010.pdf, a FIFA reconhece a Copa Intercontinental, depois chamada de Copa Toyota, quando disputada em jogo único, no Japão, como competições oficiais. O documento é um resumo estatístico do Mundial Interclubes de 2010, apresentando os clubes participantes. Mundial, este, que nunca deixou de ser patrocinado pela Toyota.
Mas e o campeão, pode ser chamado de Campeão do Mundo? A FIFA confirma isso em seu próprio site, quando diz que a Internazionale de Milano conquistou seu TERCEIRO título mundial. Para afirmar isso, eles consideraram as duas Copas Intercontinentais conquistadas pela Internazionale nos anos 60. No link http://www.fifa.com/clubworldcup/news/newsid=1354096.html, diz que “the Italians collected a third club world championship trophy to add to the two intercontinental titles they won in the mid-1960s”, ou seja, “os italianos colecionaram o terceiro troféu de campeão do mundo, que se junta aos dois títulos intercontinentais conquistados em meados da década de 60”.
Portanto, conclui-se que os outros continentes não haviam ainda se estruturado para disputarem um título mundial. A Copa Toyota, disputada no Japão era oficial e, sim, era o Mundial de Clubes. O interesse da FIFA de organizar sozinha o Mundial, a partir de 2005, deve-se a uma estratégia de marketing. O modelo atual é bem sucedido, mas o mundo mudou muito. Se agora, em 2010, a Internazionale venceu o Todo Poderoso Mazembe na decisão, em 1983, a final foi entre Grêmio X Hamburgo, decidida pelos pés de Renato. Tudo reconhecido pela FIFA.
Divirtam-se com os 15 melhores gols da história do Mundial de Clubes:
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